Do encanto à consciência: pesca lúdica
- Luís Borges
- 23 de jan.
- 2 min de leitura
Manhã mágica!
Quando eu era pequenino (tinham passado por mim 4 aninhos), deslumbrei-me pela 1ª vez. Na quinta do meu Avô Zé Maria em Caldas do Moledo, acordei um dia, muito cedinho. Abri a janela do quarto e encarei com as águas do rio Douro, que deslizavam suavemente a brilhar contra o ar refrescante da manhã. Reparei então, que saltavam peixes à superfície. Imensos peixes, a caçarem os insectos voadores noturnos, que se deixaram cair e se debatiam à superfície da água. Um pequeno almoço original da sociedade escamosa, com a Natureza como mesa, a superfície da água como prato e os pequenos insetos como pão com manteiga. Os senhores, que assim se alimentavam, eram enormes barbos, escalos e bogas.

Uns dias depois, com a cabecita plena de dúvidas, perguntei ao meu peludo tio Soares, que carregava uma cana de pesca:
-Tio, quero ir pescar contigo.
A minha Mãe Eliza negou essa possibilidade:
- Não, o rio é perigoso.
Insisti, e com um olhar ternurento, implorei. Consegui. Pesquei primeiro uma boa enguia e depois um grande barbo. Este, quase me levava com ele, não fosse a ajuda do Tio.
Fui crescendo e comigo também evoluiu o gosto pela água (dos rios, lagos e mares), pelos diversos contextos naturais e obviamente por todas as espécies piscícolas. Sensibilizavam-me a versatilidade dos rios e das suas margens, a serenidade dos lagos, a grandiosidade dos mares e a incrível diversidade e beleza dos seres, que neles viviam.
Impactos
Talvez seja repetitivo salientar as marcas, que estas realidades, imprimiram em mim. A começar pelos peixes.
Quase me tornei um biólogo, de tanto ler sobre eles, de os admirar pela suas características de beleza, elegância e vigor. Vivem "noutro mundo", que não é o nosso. Quiz pescá-los para os comer, mais concretamente para lhes conhecer o gosto, para os caracterizar em termos de força, velocidade, tamanho, nomenclatura, etc. Consegui pescar em meio mundo, centenas de espécies diferentes, utilizando as mais variadas técnicas de pesca, com material específico.
Depois, surgiu a pesca desportiva, que de desporto não tem nada. Visa o peso, a quantidade, o maior, utilizando um animal, que é morto desnecessariamente para os efeitos pretendidos. E ainda é um negócio.
Agora e finalmente, tenho clarividência. Estamos a destruir a pureza das águas, a conspurcar os leitos de rios e mares, a dizimar espécies. A "Primavera silenciosa" de Raquel Carson, passou a ser a minha Bíblia.

Proposta
Dito o que escrevi, acho que devo propor aos amantes da pesca lúdica, o seguinte:
Que pugnem pela sobrevivência das espécies piscícolas.
Que pesquem uns peixes para comer, mas pesquem só os necessários.
Que libertem os peixes, se não os quiserem saborear.
Que recuperem os seus habitats ou evitem, que sejam destruídos pela pesca industrial, para que os nossos netos tenham acesso à beleza do mundo dos peixes.
Se cumprirem e fizerem cumprir pelo menos estes itens, talvez esse outro mundo que não é o nosso, passe a ser igualmente o nosso mundo.
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